Delta-8-Tetrahidrocanabinol

Quando falamos de THC, referimo-nos geralmente ao delta-9-tetrahidrocanabinol, que é responsável pelos efeitos psicoactivos da canábis. Mas não é o único. O delta-8-tetrahidrocanabinol é outro isómero do THC. Embora não seja tão potente como o delta-9, o delta-8-THC também tem efeitos psicoactivos e terapêuticos.

História do delta-8-THC

O delta-8-THC difere do delta-9-THC apenas por algumas ligações electrónicas. E embora seja um dos canabinóides mais comuns dos cerca de 110 existentes, representa muito frequentemente menos de 0,1% do conteúdo das flores secas. Encontra-se em maiores quantidades no delta-9-THC, canabidiol (CBD) e canabinol (CBN).

Em termos de potência, a investigação sugere que o delta-8 só chega a 2/3 do delta-9, ainda assim mais potente do que o THCV, por exemplo, que só chega a 25%.

O delta-8 liga-se aos mesmos receptores que o delta-9-THC e pensa-se que estimula, em particular, a secreção do neurotransmissor acetilcolina, cuja deficiência contribui para a doença de Alzheimer e outras perturbações cognitivas.

Delta-9-THC vs delta-8-THC: semelhanças e diferenças

É possível comparar estes dois compostos de várias formas diferentes.

A estrutura química. De uma perspetiva química ou estrutural, o delta-8-THC difere do delta-9-THC devido à localização de uma ligação química crítica. Ambas as formas de THC contêm ligações duplas na sua cadeia molecular. O delta-8-THC contém esta ligação na 8ª cadeia de carbono, enquanto o delta-9-THC contém a ligação na 9ª cadeia de carbono. Embora isto possa parecer uma diferença subtil, tem um grande impacto na forma destas moléculas. Esta forma determina diretamente a capacidade das moléculas para se ligarem aos receptores endocanabinóides do corpo.

Estabilidade molecular O delta-9-THC é menos estável do que o delta-8-THC. O delta-9-THC é facilmente oxidado, transformando-se em canabinol (CBN) ou delta-8-THC. O delta-8-THC é estável, não se oxida e transforma-se em CBN e tem um prazo de validade mais longo. Esta estabilidade é desejável num composto medicinal.

Afinidade do recetor canabinóide. O delta-8-THC, quando inalado, liga-se ao recetor CB1 como o delta-9-THC, mas a sua afinidade com o recetor é diferente devido à sua estrutura molecular ligeiramente alterada e à forma relacionada. O recetor CB1 é responsável pela mediação da maioria dos efeitos psicotrópicos do THC. Esta ligação diferencial pode ser a razão pela qual o delta-8-THC produz um efeito mais claro e menos ansiogénico do que o delta-9-THC. É também possível que a estrutura molecular do delta-8-THC afecte a forma como interage com outros receptores e vias neuronais.

Efeitos do consumo Existem provas clínicas e anedóticas consideráveis de que o delta-9-THC tem efeitos intoxicantes quando consumido por inalação ou ingestão. Sabe-se muito menos sobre os efeitos do delta-8-THC. Há quem diga que o delta-8-THC produz um efeito mais suave e mais claro do que o delta-9-THC, mesmo em doses mais elevadas. No entanto, do ponto de vista farmacológico, as cápsulas de delta-8-THC funcionam de forma muito semelhante às cápsulas de delta-9-THC, com ambas as moléculas a converterem-se em 11-hidroxi-THC no fígado. Dado que ainda há muito a aprender sobre o delta-8-THC e que os efeitos são muito diferentes consoante seja ingerido ou inalado, é aconselhável tratar estes produtos com a mesma cautela que os produtos à base de THC.

Efeitos terapêuticos do delta-8-THC

O American Cancer Institute define o delta-8-THC como um “análogo do THC com propriedades antieméticas, ansiolíticas, analgésicas, estimulantes do apetite e neuroprotectoras”.

Um estudo de 2004 com roedores sugeriu que doses baixas de delta-8 estimulavam mais o apetite do que o delta-9-THC.

Um estudo de 1974 realizado em ratos também destacou a capacidade do delta-8 para inibir o crescimento de tumores. Em 1995, um estudo conduzido por Raphaël Mechoulam, o cientista que descobriu o THC, estudou o efeito do delta-8-THC nos cancros infantis. Quando o artigo foi publicado, 480 tratamentos contra o cancro acompanhados de delta-8-THC tinham sido bem sucedidos. O canabinóide tinha também demonstrado a sua capacidade de parar os vómitos.

Onde encontrar o delta-8-THC

Os extractos de delta-8-THC são relativamente difíceis de encontrar, mesmo nos Estados Unidos. Algumas empresas especializaram-se e oferecem um destilado que se apresenta sob a forma de um líquido bastante espesso.

Guild Extracts, uma marca californiana, é uma delas, e aconselha o consumo por inalação, pois a ingestão produz um derivado cujos efeitos são mal conhecidos, o 11-hidroxi-delta-8-thc.

Segundo Brad da Guild Extracts, o delta-8-THC provoca também menos efeitos psicoactivos e estimula mais o apetite, o que o torna mais fácil de administrar a pacientes que não gostam dos efeitos do delta-9-THC.

Efeitos secundários e advertências

Sendo um canabinóide menor, ainda temos muito a aprender sobre o delta-8-THC, o que exige uma abordagem cautelosa à sua utilização. Atualmente, este canabinóide está geralmente disponível em forma concentrada, uma vez que a flor de canábis contém geralmente menos de 1% de delta-8-THC.

Para obter uma quantidade substancial deste canabinóide, é necessário proceder a uma quantidade significativa de extração e refinação. Enquanto alguns concentrados de delta-8-THC são isolados, outros produtos podem combinar delta-8-THC com CBD e/ou delta-9-THC para um efeito mais completo.

Se está a considerar o delta-8-THC, é essencial saber que muito do conhecimento atual sobre este canabinóide é baseado em estudos com animais. A investigação em animais indicou que o delta-8-THC (bem como o delta-9-THC) provoca um aumento da tensão arterial ao contrair temporariamente os vasos sanguíneos. O aumento da tensão arterial é depois seguido de uma descida da tensão arterial e de um abrandamento do ritmo cardíaco.

Os efeitos observados em animais podem ser muito diferentes dos efeitos observados em humanos, como evidenciado por uma revisão sistemática de 2018 publicada na Pharmaceuticals. Por exemplo, enquanto o delta-8-THC diminuiu significativamente a frequência cardíaca em animais, ao contrário, aumentou-a em humanos. Os autores da revisão concluíram que os dados sobre os efeitos do delta-8-THC são limitados e que mais estudos precisam ser realizados em populações humanas para entender como ele induz mudanças no fluxo sanguíneo.